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Capítulo 6 - Os seres mais antigos
Lión parecia cada vez mais obcecado pelo estranho comportamento do assassino incendiário. Depois da descoberta do corpo do ourives Bervino, o leão de armadura dourada saiu diretamente para encontrar Rimmo mas, quando chegou em frente ao mercado, as portas estavam fechadas. Estranhou.
Depois de perguntar a três ou quatro transeuntes, descobriu o provável paradeiro de Rimmo e dirigiu-se para lá. No caminho, teve que obrigatoriamente passar pela praça central de Novafur, onde a estátua de Abel parecia olhar para ele com uma desconfortável reprovação marmórea.
Quando o cheiro de presunto defumado e cerveja chegou às narinas de Lión, ele se viu em frente à movimentada Taverna do Bardo. Praticamente o único lugar em toda cidade onde os mais pobres conviviam de igual com os mais abastados, desde que tudo fosse regado a vinho. Como já passava da hora do almoço, o local fervia de clientes e os garçons se esbarravam apressados no Abeliano quando ele passava entre as mesas.
No fundo, sentado atrás do balcão, estava o Bardo: um gordo e velho cão branco que dedilhava uma pequena harpa e às vezes a aproximava da orelha esquerda para testar a afinação das cordas. A mancha marrom-escuro em torno de seu olho direito lembrava um tipo de tapa-olho. Sorriu quando Lión se aproximou.
-Boa tarde, General. A mesa de sempre?
-Boa tarde, Ipu. Desculpe, mas estou sem fome... você sabe que esse caso está acabando com meu apetite. De qualquer forma, estou aqui procurando o...
-Rimmo. - o Bardo o interrompeu gentilmente, mas de modo que surpreendeu o soldado - Pois ele está nos fundos, jogando cartas.
-A esta hora do dia? E quem está com ele?
-Dois ou três forasteiros que pensam poder vencê-lo nas cartas. Rimmo, como sempre, vai tirar tudo que eles têm em poucas jogadas. Você não precisa de convite pra ir até a sala de jogo, General.
Sem dizer mais nada, Lión adentrou o corredor escuro que dava para os fundos, não percebendo o sorriso nos lábios do Bardo. Quando abriu a porta no fim do corredor, todos em torno da mesa de jogo olharam para o soldado, menos Rimmo, que neste instante colocava um punhado de cartas sobre a mesa.
-Mais uma vez, cavalheiros, eu venço! Acho que isso encerra esta rodada. Foi um prazer jogar com vocês. - o tigre puxava para si os ouros que acabara de ganhar enquanto os outros jogadores se levantavam tristes e mais pobres. - General Lión, aceita uma partida rápida?
-Bervino morreu, Rimmo. Foi encontrado hoje - Lión se se aproximou e sentou na cadeira oposta, semblante sério. - Acho que você pode ter sido um dos últimos que o viu antes de morrer. Sobre o que falaram? Viu alguém suspeito?
-O Mestre? Morto? Como assim? Foi algum assalto? O que levaram?
Lión apenas retirou do bolso um dos documentos encontrados na casa do ourives. Parcialmente queimado, mas ainda era possível ler-se várias transações monetárias. Rimmo compreendeu do que se tratava e não escondeu o nervosismo.
-Eu não vi ninguém, General. E mesmo que tivesse visto, até onde sei, pode ser qualquer um. Ninguém nunca viu esse incinerador ambulante.
-Três mortes. O que aqueles Senadores mortos tinham com o ourives, Rimmo? você deve saber de algo que nos ajude!
O tigre abaixou a cabeça visivelmente tenso. Começou a balbuciar palavras indecisas.
-Eu... eu tentei avisar ao mestre Bervino. Ele me ensinou muito do que sei hoje... Mas aquele velho era teimoso...
-O que você avisou? No que Bervino estava metido? Quem é o assassino, Rimmo?
Quando o tigre ia responder, seus olhos se arregalaram em direção à porta. Lión rapidamente se virou para ver apenas um pequeno dardo sendo lançado. Quando atingiu o pescoço de Rimmo, este caiu para trás derrubando mesas e cadeiras. Lión saiu correndo pela porta perseguindo alguém que corria com habilidade em direção ao salão principal da taverna.
-Bardo, você viu alguém sair por aqui? - Lión, esbaforido, olhava por sobre as cabeças tentando identificar alguém fugindo. - Rimmo foi atacado! Venha correndo!
O gordo cão branco correu para os fundos com o abeliano. Rimmo agonizava no chão.
-Faça alguma coisa! Ele sabe quem é o assassino! Precisa nos contar!
Ipu se aproximou do tigre que se contorcia pelo veneno. Começou a dedilhar notas na harpa e cantou uma melodia curta numa língua desconhecida. Instantaneamente Rimmo abriu os olhos e respirou profundamente.
-Não sei quanto tempo a magia vai durar, o veneno é potente - Ipu mantinha as cordas da harpa em sonoridade. - fale com ele, Lión.
O abeliano aproximou seu focinho do tigre, tentando entender o que ele dizia. Antes que o veneno finalmente vencesse a magia do bardo, Lión ouviu Rimmo cochichar:
-Carne... vida... há outros! (tosse) procure... procure os antigos reis... antes que... antes que ele mate mais algu...
-Rimmo! Rimmo! - apesar dos solavancos dados pelo general, o tigre nada mais disse. Ipu cessou sua música e cobriu o corpo de Rimmo com uma toalha branca de mesa. De repente, gritaria no salão da taverna.
-O que houve? - Ipu e Lión chegavam de volta ao salão, quando viram o maior garçon da taverna - um urso marrom - segurando um pequeno gato preto pelos colarinhos.
-Esse baixinho saiu correndo sem pagar, seu Ipu! Peguei o safado lá fora. - com a brutalidade do garçon, uma pequena zarabatana caiu dos bolsos do gato, assim como mais dois dardos.
- É o assassino de Rimmo! Você está preso em nome da guarda Abeliana! - Lión rapidamente amarrou os pulsos do gato e recolheu as provas do crime. - Queria evitar que ele o entregasse, não? Senhor assassino incendiário!
- Ok, ok, eu confesso! Eu matei aquele desgraçado porque ele estava roubando no jogo! Ele tirou tudo que eu tinha! Não tenho sequer como pagar a conta da taverna! Mas eu não sei nada sobre assassinos incendiários! Aliás, eu cheguei em Novafur hoje cedo!
O entusiasmo de Lión esfriou como de recebesse um tapa. A taverna permaneceu fechada até que o corpo fosse removido. Mais tarde, a história do gato preto fora confirmada por 4 testemunhas - inclusive a trapaça de Rimmo na mesa de jogo. E além disso, o gato não era um dominador de fogo. Restava ao abeliano tentar juntar mais uma peça do quebra-cabeças: as palavras confusas do moribundo Rimmo.
***
Exdra e Estratus discutiram muito sobre "voltar para ajudar Skib" por todo caminho. Caminho este, aliás, praticamente inexistente: uma trilha de difícil movimentação, como se realmente estivesse escondida na mata fechada. Por fim encontraram a entrada da caverna.
-Você mora aqui, Exdra? - Estratus adentrava o enorme buraco na rocha, notando um grande corredor central. Nas laterais, escombros de antigas estátuas de pedra negra se amontoavam lado a lado até o fundo.
-Não, aqui moram os seres mais antigos e sábios de toda Novafur. Seres que não foram contaminados com essa febre herege de adoração do monstro. Seres fiéis à memória imortal da deusa dragonesa.
No fundo, uma pira estava acesa e, diante dela, Exdra se ajoelhou por um curto instante em respeito. Passando por trás desta pira, cão e quimera saíram para um enorme vale, onde duas gigantes criaturas se encaravam.
-Não é possível! São mesmo... dragões! De verdade!
-Cale-se, Estratus. Algo não está certo. Eles parecem estar em algum tipo de combate... Aquele grande e cinzento, Jibaku, é o líder da Casa dos Dragões. Mas o outro, o prateado, eu nunca vi antes...
A presença de Estratus e Exdra foi então percebida pelos dois gigantes de escamas. Jibaku se aproximou deles com passos que faziam o chão tremer. Sua cara fechada causou arrepios na cauda de Estratus.
-Você não é bem vinda à Casa dos Dragões, Exdra Vermillon, nem ninguém que venha com você. Não nos interessa também nada que tenha a declarar ou planos que tenha perpetrado. - O dragão cinzento falava sem mover os lábios, e sua voz ecoava dentro da mente de Exdra e Estratus.
-Mestre Jibaku, por favor! Não nos expulse sem ouvir o que tenho a dizer! Ontem conseguimos nossa primeira grande vitória contra os fanáticos adoradores de Destiny! O templo foi destruído e a grande estátua está em pedaços! - Exdra tirou de sua bolsa uma das bombas que usara no atentado, sob os olhares de Jibaku e Estratus.
-Por acaso você se vangloria deste ato de terror? Acha que isso realmente é a vontade de nossa Deusa? E mais: acha que isso irá detê-los? Você não pensou nas conseqüências, como sempre! Não vai demorar para que os seguidores de Destiny se posicionem publicamente contra nós, e teremos sorte se não resolverem nos atacar. - Jibaku estava mais irritado do que quando chegaram. O dragão prateado então se aproximou, com uma voz estranhamente suave e aveludada, mas ainda assim assustadora.
-Entende meu ponto de vista agora, Jibaku? Tiamat não vai reerguer a sua Casa dos Dragões, nem a minha. Nem sabemos se um dia ela existiu!
-Cale-se, Sckhar! Se você veio de Montúria até aqui para me convencer a esquecer a Deusa, perdeu seu tempo! - Jibaku voltou a encarar o dragão prateado com raiva.
-A Deusa já esqueceu de todos nós. Por que acha que o povo escolheu Destiny como ídolo? Ele é um símbolo de força! Está na hora dos dragões tomarem de volta o que vêm perdendo nas últimas décadas, e isto só será possível se nós formos os seres mais fortes de novo! Se nós nos tornarmos os verdadeiros deuses, os verdadeiros ídolos!
Jibaku tremeu ao ouvir estas palavras de Skchar. De suas narinas uma fumaça negra apareceu e Estratus podia jurar que ouviu o som de labaredas ardendo dentro do corpo dele.
-Pela última vez, Sckhar, aviso a você: não desafie minha lealdade a Tiamat pois não hesitarei em defendê-la de qualquer um. Isto inclui você e toda sua Casa. - Enquanto falava, pequenas chamas serpenteavam na boca do grande dragão cinzento, literalmente a um passo de explodir.
-Não temo desafiar uma divindade que não existe, caro Jibaku. - das ventas dos dragão prateado, algumas faíscas elétricas estalaram como pequenos raios - Você é cego e não percebe que os próprios novafurianos já escolheram um novo deus. Por hora, reitero meu convite de aliança: só quando unirmos todas as Casas de Dragões voltaremos a ser fortes. Volto para Montúria com a convicção de que você irá acabar concordando comigo. Espero apenas que não seja tarde demais para você.
Sckhar abriu as enormes asas e alçou vôo em direção ao norte. O vento gerado agitou os pelos de Estratus e Exdra.
-Agora quanto a você, Exdra - Jibaku voltava sua raiva novamente à dragata rubra - ponha-se daqui para fora antes que algum fanático resolva procurá-la aqui.
-Senhor dragão, com licença - Estratus não iria embora sem ao menos tentar - preciso que ajude o capitão Skib, o único amigo que me acolheu desde que cheguei a Novafur, e que se perdeu para que eu pudesse fugir. Acham que ele é o terrorista, e pode ter sido preso injustamente!
-Este assunto não interessa à Casa dos Dragões, ainda mais vindo de um forasteiro. - Jibaku aproximou o enorme focinho réptil de Estratus quando algo estranho aconteceu: as chamas ameaçadoras que saíam de suas narinas se extinguiram instantaneamente, ao mesmo tempo em que a pedra pendurada no pescoço do cão marrom brilhou forte como uma pequena estrela. Exdra arregalou os olhos.
-Esta pedra é uma... uma neutrina! Onde conseguiu uma neutrina, Estratus? Não existem delas em Novafur! - Exdra tentou tocar a pedra brilhante, mas Estratus evitou, contendo sua mão.
Jibaku ficou visivelmente desconcertado. O forasteiro que acompanhava a terrorista tinha uma neutrina muito potente. Reis e exércitos inteiros já haviam sido derrotados pelos poderes das neutrinas.
-Pois bem, vocês parecem ter algumas surpresas escondidas. Ok, senhor Estratus, vamos ouvir o que você tem a dizer... mais tarde. Agora vocês devem descansar.
Estratus e Exdra foram então conduzidos a um tipo de alojamento construído na pedra maciça. A dragata se sentia triunfante com seu golpe de sorte: o garoto tinha uma neutrina! Nada melhor para conseguir um pouco de atenção dos dragões.
Já Estratus tinha a mente perturbada com os eventos das últimas horas e, mesmo percebendo que afundava cada vez mais numa trama muito maior do que ele jamais havia imaginado, não esquecia a imagem de Skib, lutando, talvez preso, e tudo o mais que devia estar passando. Suspirou agarrado à sua neutrina.
(continua...)
Lión parecia cada vez mais obcecado pelo estranho comportamento do assassino incendiário. Depois da descoberta do corpo do ourives Bervino, o leão de armadura dourada saiu diretamente para encontrar Rimmo mas, quando chegou em frente ao mercado, as portas estavam fechadas. Estranhou.
Depois de perguntar a três ou quatro transeuntes, descobriu o provável paradeiro de Rimmo e dirigiu-se para lá. No caminho, teve que obrigatoriamente passar pela praça central de Novafur, onde a estátua de Abel parecia olhar para ele com uma desconfortável reprovação marmórea.
Quando o cheiro de presunto defumado e cerveja chegou às narinas de Lión, ele se viu em frente à movimentada Taverna do Bardo. Praticamente o único lugar em toda cidade onde os mais pobres conviviam de igual com os mais abastados, desde que tudo fosse regado a vinho. Como já passava da hora do almoço, o local fervia de clientes e os garçons se esbarravam apressados no Abeliano quando ele passava entre as mesas.
No fundo, sentado atrás do balcão, estava o Bardo: um gordo e velho cão branco que dedilhava uma pequena harpa e às vezes a aproximava da orelha esquerda para testar a afinação das cordas. A mancha marrom-escuro em torno de seu olho direito lembrava um tipo de tapa-olho. Sorriu quando Lión se aproximou.
-Boa tarde, General. A mesa de sempre?
-Boa tarde, Ipu. Desculpe, mas estou sem fome... você sabe que esse caso está acabando com meu apetite. De qualquer forma, estou aqui procurando o...
-Rimmo. - o Bardo o interrompeu gentilmente, mas de modo que surpreendeu o soldado - Pois ele está nos fundos, jogando cartas.
-A esta hora do dia? E quem está com ele?
-Dois ou três forasteiros que pensam poder vencê-lo nas cartas. Rimmo, como sempre, vai tirar tudo que eles têm em poucas jogadas. Você não precisa de convite pra ir até a sala de jogo, General.
Sem dizer mais nada, Lión adentrou o corredor escuro que dava para os fundos, não percebendo o sorriso nos lábios do Bardo. Quando abriu a porta no fim do corredor, todos em torno da mesa de jogo olharam para o soldado, menos Rimmo, que neste instante colocava um punhado de cartas sobre a mesa.
-Mais uma vez, cavalheiros, eu venço! Acho que isso encerra esta rodada. Foi um prazer jogar com vocês. - o tigre puxava para si os ouros que acabara de ganhar enquanto os outros jogadores se levantavam tristes e mais pobres. - General Lión, aceita uma partida rápida?
-Bervino morreu, Rimmo. Foi encontrado hoje - Lión se se aproximou e sentou na cadeira oposta, semblante sério. - Acho que você pode ter sido um dos últimos que o viu antes de morrer. Sobre o que falaram? Viu alguém suspeito?
-O Mestre? Morto? Como assim? Foi algum assalto? O que levaram?
Lión apenas retirou do bolso um dos documentos encontrados na casa do ourives. Parcialmente queimado, mas ainda era possível ler-se várias transações monetárias. Rimmo compreendeu do que se tratava e não escondeu o nervosismo.
-Eu não vi ninguém, General. E mesmo que tivesse visto, até onde sei, pode ser qualquer um. Ninguém nunca viu esse incinerador ambulante.
-Três mortes. O que aqueles Senadores mortos tinham com o ourives, Rimmo? você deve saber de algo que nos ajude!
O tigre abaixou a cabeça visivelmente tenso. Começou a balbuciar palavras indecisas.
-Eu... eu tentei avisar ao mestre Bervino. Ele me ensinou muito do que sei hoje... Mas aquele velho era teimoso...
-O que você avisou? No que Bervino estava metido? Quem é o assassino, Rimmo?
Quando o tigre ia responder, seus olhos se arregalaram em direção à porta. Lión rapidamente se virou para ver apenas um pequeno dardo sendo lançado. Quando atingiu o pescoço de Rimmo, este caiu para trás derrubando mesas e cadeiras. Lión saiu correndo pela porta perseguindo alguém que corria com habilidade em direção ao salão principal da taverna.
-Bardo, você viu alguém sair por aqui? - Lión, esbaforido, olhava por sobre as cabeças tentando identificar alguém fugindo. - Rimmo foi atacado! Venha correndo!
O gordo cão branco correu para os fundos com o abeliano. Rimmo agonizava no chão.
-Faça alguma coisa! Ele sabe quem é o assassino! Precisa nos contar!
Ipu se aproximou do tigre que se contorcia pelo veneno. Começou a dedilhar notas na harpa e cantou uma melodia curta numa língua desconhecida. Instantaneamente Rimmo abriu os olhos e respirou profundamente.
-Não sei quanto tempo a magia vai durar, o veneno é potente - Ipu mantinha as cordas da harpa em sonoridade. - fale com ele, Lión.
O abeliano aproximou seu focinho do tigre, tentando entender o que ele dizia. Antes que o veneno finalmente vencesse a magia do bardo, Lión ouviu Rimmo cochichar:
-Carne... vida... há outros! (tosse) procure... procure os antigos reis... antes que... antes que ele mate mais algu...
-Rimmo! Rimmo! - apesar dos solavancos dados pelo general, o tigre nada mais disse. Ipu cessou sua música e cobriu o corpo de Rimmo com uma toalha branca de mesa. De repente, gritaria no salão da taverna.
-O que houve? - Ipu e Lión chegavam de volta ao salão, quando viram o maior garçon da taverna - um urso marrom - segurando um pequeno gato preto pelos colarinhos.
-Esse baixinho saiu correndo sem pagar, seu Ipu! Peguei o safado lá fora. - com a brutalidade do garçon, uma pequena zarabatana caiu dos bolsos do gato, assim como mais dois dardos.
- É o assassino de Rimmo! Você está preso em nome da guarda Abeliana! - Lión rapidamente amarrou os pulsos do gato e recolheu as provas do crime. - Queria evitar que ele o entregasse, não? Senhor assassino incendiário!
- Ok, ok, eu confesso! Eu matei aquele desgraçado porque ele estava roubando no jogo! Ele tirou tudo que eu tinha! Não tenho sequer como pagar a conta da taverna! Mas eu não sei nada sobre assassinos incendiários! Aliás, eu cheguei em Novafur hoje cedo!
O entusiasmo de Lión esfriou como de recebesse um tapa. A taverna permaneceu fechada até que o corpo fosse removido. Mais tarde, a história do gato preto fora confirmada por 4 testemunhas - inclusive a trapaça de Rimmo na mesa de jogo. E além disso, o gato não era um dominador de fogo. Restava ao abeliano tentar juntar mais uma peça do quebra-cabeças: as palavras confusas do moribundo Rimmo.
***
Exdra e Estratus discutiram muito sobre "voltar para ajudar Skib" por todo caminho. Caminho este, aliás, praticamente inexistente: uma trilha de difícil movimentação, como se realmente estivesse escondida na mata fechada. Por fim encontraram a entrada da caverna.
-Você mora aqui, Exdra? - Estratus adentrava o enorme buraco na rocha, notando um grande corredor central. Nas laterais, escombros de antigas estátuas de pedra negra se amontoavam lado a lado até o fundo.
-Não, aqui moram os seres mais antigos e sábios de toda Novafur. Seres que não foram contaminados com essa febre herege de adoração do monstro. Seres fiéis à memória imortal da deusa dragonesa.
No fundo, uma pira estava acesa e, diante dela, Exdra se ajoelhou por um curto instante em respeito. Passando por trás desta pira, cão e quimera saíram para um enorme vale, onde duas gigantes criaturas se encaravam.
-Não é possível! São mesmo... dragões! De verdade!
-Cale-se, Estratus. Algo não está certo. Eles parecem estar em algum tipo de combate... Aquele grande e cinzento, Jibaku, é o líder da Casa dos Dragões. Mas o outro, o prateado, eu nunca vi antes...
A presença de Estratus e Exdra foi então percebida pelos dois gigantes de escamas. Jibaku se aproximou deles com passos que faziam o chão tremer. Sua cara fechada causou arrepios na cauda de Estratus.
-Você não é bem vinda à Casa dos Dragões, Exdra Vermillon, nem ninguém que venha com você. Não nos interessa também nada que tenha a declarar ou planos que tenha perpetrado. - O dragão cinzento falava sem mover os lábios, e sua voz ecoava dentro da mente de Exdra e Estratus.
-Mestre Jibaku, por favor! Não nos expulse sem ouvir o que tenho a dizer! Ontem conseguimos nossa primeira grande vitória contra os fanáticos adoradores de Destiny! O templo foi destruído e a grande estátua está em pedaços! - Exdra tirou de sua bolsa uma das bombas que usara no atentado, sob os olhares de Jibaku e Estratus.
-Por acaso você se vangloria deste ato de terror? Acha que isso realmente é a vontade de nossa Deusa? E mais: acha que isso irá detê-los? Você não pensou nas conseqüências, como sempre! Não vai demorar para que os seguidores de Destiny se posicionem publicamente contra nós, e teremos sorte se não resolverem nos atacar. - Jibaku estava mais irritado do que quando chegaram. O dragão prateado então se aproximou, com uma voz estranhamente suave e aveludada, mas ainda assim assustadora.
-Entende meu ponto de vista agora, Jibaku? Tiamat não vai reerguer a sua Casa dos Dragões, nem a minha. Nem sabemos se um dia ela existiu!
-Cale-se, Sckhar! Se você veio de Montúria até aqui para me convencer a esquecer a Deusa, perdeu seu tempo! - Jibaku voltou a encarar o dragão prateado com raiva.
-A Deusa já esqueceu de todos nós. Por que acha que o povo escolheu Destiny como ídolo? Ele é um símbolo de força! Está na hora dos dragões tomarem de volta o que vêm perdendo nas últimas décadas, e isto só será possível se nós formos os seres mais fortes de novo! Se nós nos tornarmos os verdadeiros deuses, os verdadeiros ídolos!
Jibaku tremeu ao ouvir estas palavras de Skchar. De suas narinas uma fumaça negra apareceu e Estratus podia jurar que ouviu o som de labaredas ardendo dentro do corpo dele.
-Pela última vez, Sckhar, aviso a você: não desafie minha lealdade a Tiamat pois não hesitarei em defendê-la de qualquer um. Isto inclui você e toda sua Casa. - Enquanto falava, pequenas chamas serpenteavam na boca do grande dragão cinzento, literalmente a um passo de explodir.
-Não temo desafiar uma divindade que não existe, caro Jibaku. - das ventas dos dragão prateado, algumas faíscas elétricas estalaram como pequenos raios - Você é cego e não percebe que os próprios novafurianos já escolheram um novo deus. Por hora, reitero meu convite de aliança: só quando unirmos todas as Casas de Dragões voltaremos a ser fortes. Volto para Montúria com a convicção de que você irá acabar concordando comigo. Espero apenas que não seja tarde demais para você.
Sckhar abriu as enormes asas e alçou vôo em direção ao norte. O vento gerado agitou os pelos de Estratus e Exdra.
-Agora quanto a você, Exdra - Jibaku voltava sua raiva novamente à dragata rubra - ponha-se daqui para fora antes que algum fanático resolva procurá-la aqui.
-Senhor dragão, com licença - Estratus não iria embora sem ao menos tentar - preciso que ajude o capitão Skib, o único amigo que me acolheu desde que cheguei a Novafur, e que se perdeu para que eu pudesse fugir. Acham que ele é o terrorista, e pode ter sido preso injustamente!
-Este assunto não interessa à Casa dos Dragões, ainda mais vindo de um forasteiro. - Jibaku aproximou o enorme focinho réptil de Estratus quando algo estranho aconteceu: as chamas ameaçadoras que saíam de suas narinas se extinguiram instantaneamente, ao mesmo tempo em que a pedra pendurada no pescoço do cão marrom brilhou forte como uma pequena estrela. Exdra arregalou os olhos.
-Esta pedra é uma... uma neutrina! Onde conseguiu uma neutrina, Estratus? Não existem delas em Novafur! - Exdra tentou tocar a pedra brilhante, mas Estratus evitou, contendo sua mão.
Jibaku ficou visivelmente desconcertado. O forasteiro que acompanhava a terrorista tinha uma neutrina muito potente. Reis e exércitos inteiros já haviam sido derrotados pelos poderes das neutrinas.
-Pois bem, vocês parecem ter algumas surpresas escondidas. Ok, senhor Estratus, vamos ouvir o que você tem a dizer... mais tarde. Agora vocês devem descansar.
Estratus e Exdra foram então conduzidos a um tipo de alojamento construído na pedra maciça. A dragata se sentia triunfante com seu golpe de sorte: o garoto tinha uma neutrina! Nada melhor para conseguir um pouco de atenção dos dragões.
Já Estratus tinha a mente perturbada com os eventos das últimas horas e, mesmo percebendo que afundava cada vez mais numa trama muito maior do que ele jamais havia imaginado, não esquecia a imagem de Skib, lutando, talvez preso, e tudo o mais que devia estar passando. Suspirou agarrado à sua neutrina.
(continua...)
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parabems, esse capitulo por mim foi o melhor, me recordei do antigo capitulo do mestre abel paladino! ^^