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Cheguei a pensar que a distância e talvez o trabalho tinham-me feito esquecer minha amada Akira, todavia no momento que a voz dela entrou em meus ouvidos, vindos da pessoa que para mim era única coisa que importava neste mundo, fez todos os sentimentos mais puros e límpidos voltarem com força esmagadora ao meu coração, ver o amor da minha vida perante mim como uma inimiga era como tivesse uma adaga encravada no meio do meu peito; lá se encontrava Capuleto Akira, que graças ao aquecimento interno da base trajava uma típica vestimenta de batalha nekomimi, adaptada para sua condição atual, limitando-se a um top que cobria seus bem maiores seios, que deviam já estar quase cheios de leite, uma linda barriga descoberta de gravida prenunciando a chegada do sétimo mês de gravidez e um shortinho minúsculo que mal cobria suas nádegas.
"Que... linda estás Akira-chan..." pensei em dizer, todavia as palavras falharam-me, sem saírem de meus lábios "que barriga grande para teu pequeno corpinho... que maravilha da natureza... e eu nem consegui... vê-la crescer... fazer os exames contigo... sorrir nos passeios mostrando nosso rebento crescendo, amparando-a quando se sentisse enjoada... meu São Miau... por que dei ouvidos a Lívia?!?! Por que errei tanto?!?!" a muito custo consegui segurar minhas lágrimas que tentavam sair a qualquer custo visto a emoção que sentia naquele momento, entretanto logo em seguida toda a magia de meu encantamento caiu por terra, no exato momento em que Akira demonstrou que não sentia o mesmo, dizendo:
- Não imaginei que viria tão rápido para cá verme – Akira pareceu ponderar por alguns instantes – bem, não que isto fará alguma diferença, meu plano de vingança começou tão logo fomos informados que você tinha partido da capital até aqui...
- Como soubeste que me dirigia para cá? – perguntei estupefato, sem saber como a informação pudera ter vazado – se apenas o Andrade, Chi e eu sabíamos para aonde nos iriamos!
- Com informantes, claro! – Akira respondeu, com bastante confiança em sua voz – ou como acha que saberíamos até a hora em que seu helicóptero saiu do heliporto?
- Impossível! – o Andrade exclamou, parecendo revoltado – como poderiam ter informantes na capital quando não avistamos um único nekomimi por mais de quatro meses?!?! – começou a andar em direção de Akira, já com a mão na empunhadura de sua espada.
- Só por que não nos viu – Akira respondeu, batendo as patas – não significa que não estivéssemos lá – olhou então em volta – não é mesmo meninas?
- O que quer... – Andrade dizia no exato momento em que garras afiadas apareceram bem ao lado de seu pescoço – mas o que é isto?
- São umas amigas minhas – Akira respondeu, em tom de deboche – aconselho a não se mexer mais sem minha permissão, não queremos que morra prematuramente, não é mesmo?
Foi então que notei cerca de nove humanas entrando no recinto mais uma nekomimi fêmea que mantinha o Andrade parado com suas garras, não consegui compreender por que tínhamos membros da minha própria raça ajudando-a! Foi então que perguntei:
- Como podem, vós membros de nossa raça trair-nos com os nekomimis? – olhava para elas duramente – o que pode ela ter oferecido te tão bom para vós a ponto de mudarem de lado?
- Elas, traindo sua raça Richard? – Akira respondeu, zombando – e desde quando minhas amigas são humanos nojentos? – fez um sinal com a pata para elas – já está ok, podem mostrar a ele.
- Mostrar o que...? – foi então que tudo ficou claro, pois cada fêmea passou a retirar uma espécie de peruca que ia de uma orelha humana falsa até outra, habilmente escondendo suas orelhas de gato sob elas – n... não é possível... – balbuciei ao ver que as nekomimis retiravam algo parecido com uma "pele" de suas gostas que escondiam seus rabos, que balançaram livremente em seguida – n... não acredito... mas... mas mesmo com esses aparatos... o gás EG... os afetaria mesmo assim...
- Minha prima suspeitou que o rei teria alguma maneira de nos neutralizar parcialmente tão logo eu declarasse guerra contra tua imunda raça – respondeu Akira, cuspindo no chão – por isto, tão logo eu apertei aquele botão que acionou o avião que me tirou deste lugar, todos os nekomimis favoráveis a nossa causa que viviam em Verona oeste se esconderam debaixo da terra, em abrigos subterrâneos, tão logo saíram apenas eliminaram os habitantes humanos e tomaram seus lugares.
- Isto não faz sentido – o Andrade comentou, continuando – como conseguiram inserir tantos extremistas lá em tão pouco tempo?
- E quem disse que tivemos pouco tempo? – Akira respondeu, continuando – a mãe de Lívia fora mandada para casar-se com um velho nobre nekomimi por não ter sido a escolhida para acasalar-se com o descendente de Mewsus, correto? Este nekomimi muito velho assumiu o titulo de nobreza tão logo o antecessor foi morto na guerra de mil novecentos e quarenta e cinco, só que ele era um extremista dos mais radicais; se lembram de que o oeste de Verona estava destruído e precisávamos de pessoas para ajudar a reconstruir o local? Pois bem, como sinal de confiança a raça nekomimi, foi dado a este, na época, jovem nobre a tarefa de incentivar nekomimis a se mudarem de Mewrusalém para a costa oeste... adivinhe o que ele acabou fazendo?
- Mandou apenas representantes leais e fieis dos extremistas para habitar o local... – respondi depressivamente, entendendo subitamente o que tinha ocorrido – mas... como passaram pelo teste de DNA, não havia como enganarem... – foi então que lembrei, o teste de DNA aconteceria na semana seguinte ao terremoto, somando-se este evento com a declaração de Chi, este detalhe fora deixado de lado – o terremoto...
- Exatamente, o ataque contra Artólia serviria para te fazer, já que sabia do nosso potencial destrutivo no ataque contra a tua base avançada, mandar o contingente em quase toda Verona para proteger a fronteira nordeste – Akira comentou, fazendo movimentos com suas patas – fazendo-nos, já que acabamos eliminando até os membros do exército real, sermos mandados diretamente para o coração da capital; o terremoto nos deu então a chance perfeita para agirmos, esperando o inverno chegar, porém precisávamos te tirar de Verona para que o plano fosse cem por cento eficaz, estas armas de tempos antigos foram apenas o meio que encontramos para atraí-lo até aqui, visto que nekomimis não se rebaixariam a fugir de um combate corporal! – neste momento um aparelho de celular tocou, ao que Akira rapidamente atendeu, dizendo – sim, Akira falando... sim... já? Que maravilha! Certo... sim... entendo, está bem me aguarde, dentro em breve estarei ai, apenas deixe-me informada – desligando o aparelho em seguida.
- Quem era? – perguntou uma nekomimi, aparentemente a mais próxima de Akira entre os presentes.
- Era a comandante Ceres, dizendo que setenta por cento de toda Verona já estava sob nosso controle! – olhou então para mim, com olhos tão frios que me fizeram arrepiar – então reizinho nojento, o que pretende fazer?
- R... Reizinho... – as palavras carregadas de ódio vindas de Akira machucavam-me mais do que se ela fisicamente me torturasse – c... como assim setenta por cento de Verona dominada? Desejas que eu acredite em um disparate deste Akira-chan? – foi o que consegui raciocinar após o que ela disse, tentando achar uma maneira mentalmente de reconhecer minha amada naquele ser nefando que se portava perante mim.
- Ora, se não acredita ligue para alguém de sua confiança e peça que ele confirme – Akira respondeu, de maneira jocosa, aproximando-se de mim – tenho certeza que aquele Soares, que agora está sob vigilância de Ceres, poderá confirma-lo, use seu telefone mesmo, depois que a Lívia instalou amplificadores de sinal aqui, a ligação poderá ser completada – disse então, levantando sua pata e fazendo as garras saírem, retalhando meu peito de uma maneira superficial, mas muito dolorosamente – nunca mais utilize esta boca imunda para me chamar... desta maneira... tão informal... entendido?
- Maldita! – gritei de dor, olhando para meu peito e notando um pouco de sangue escorrendo por ele – e... está bem... irei ligar... – rapidamente tirei meu comunicador e disquei o número do Soares, após alguns toques alguém atendeu, porém nada disse – Soares, aqui é Richard, como está a situação por ai?
- Ora, então estou falando com o tão famoso e odiado Richard? – uma voz feminina respondeu de maneira sensual e desdenhosa – se está ligando estando na base acho que a Akira-sama já deve ter te dado a noticia que agora Verona está nas nossas patas, não é? Quer que eu, Ceres, passe para seu amiguinho nobre enquanto ele ainda tem alguma vida sobrando nele?
- Droga! O que fizeram com ele?!?! – exclamei estupefato – deixe-me falar com ele agora mesmo!!!
- Creio que não esteja em condições de fazer exigências seu pequenino verme, porém como isto foi ordem de Akira, deixarei falar com ele – houve então um som de como se alguém passasse o aparelho para outra pessoa – R... Richard... os nekomimis... nos pegaram... de surpresa...
- O que quer dizer Soares?!?! Então a invasão efetivamente aconteceu?!?! – perguntei perplexo, não conseguindo acreditar no que acontecia – como deixamos isto acontecer?
- C... Como não estávamos por perto... eles atacaram de surpresa... eles estavam disfarçados de humanos... não tivemos tempo para mais nada... – ouvi então o aparelho sendo pego por alguém, que disse em seguida – bem, agora já confirmou ser verdade, nós comandamos Verona! – Ceres desligou em seguida.
- M... Meu São Miau... – eu disse, deixando o comunicador cair ao chão, olhei para o Andrade então – é... verdade, Verona está controlada pelos nekomimis... – retornei minha atenção para Akira, que me encarava de perto – o... o que irás fazer agora... já tens o que deseja...
- Bem... – Akira pareceu ponderar por alguns instantes, dizendo em seguida – a não ser que você nos derrote aqui e a todos os membros de nossa raça em seu território, acho que irei retirar todas as roupas dos humanos que são nossos prisioneiros e os jogarei do lado de fora, para que morram como estátuas congeladas, depois o farei andar e olhá-las antes de eu mesma te mandar para o inferno! Não consigo pensar em uma maneira melhor de vingar-me de você acabando com seu povo perante sua impotente figura!
- E... Eu não acredito – estava horrorizado, pelo olhar gelado de Akira somado com a extremamente potente aura negra em volta de si, tinha certeza que estava falando sério – n... não pode...
- Não só posso como irei – Akira respondeu, zombando de mim e virando-se passando a caminhar para a porta de saída, bem do outro lado onde nos encontrávamos – meninas, acabem com esses dois e levem aquele traste ali junto conosco para capital de Verona.
Foi então que notei que tudo tinha acabado, "preciso pensar em algo, senão o Andrade será morto e Chi destruída!" pensei "mas o que eu posso fazer numa situação como esta?!?! Está tudo acabado!"; passei então ver os habitantes de Verona sendo despidos e jogados ao relento, morrendo rapidamente por causa do frio destruidor que assolava nossa terra, meu coração encheu-se de tristeza pelas muitas vidas que seriam perdidas "eu daria qualquer coisa que me fosse possível para ao menos salvar a vida de todos estes inocentes..."; novamente a torrente de palavras veio a minha mente e, mesmo sabendo que não resolveria a situação, tinha a certeza que me daria mais tempo para pensar:
- Ora Akira-sama! Não te reconheço mais! – chacoalhei a cabeça lentamente – dizes que vingar-se-á de mim fazendo-me ver os corpos mortos de meus súditos perante minha impotente figura? – apontei para ela então – pois isto é muito estranho, visto dizer que o fará porque tentei manipular e enganar-te para conseguir fazer-me rei e finalmente conquistar todos os nekomimis – cruzei os braços então – eu seria um ser muito baixo caso tais afirmações fossem verdadeiras, entretanto sacrificar as vidas de todos os integrantes de uma raça por causa de uma vingança pessoal a fará milhões de vezes pior do que alegas que sou!
Akira parou de caminhar assim que comecei a falar, encontrava-se de costas para mim, todavia consegui notar que minhas palavras tinham surtido efeito no exato momento em que suas orelhas de gato tremeram levemente, permaneceu daquela maneira por alguns momentos, como se pensasse no que eu acabara de dizer, virou-se logo em seguida e, com uma cara visivelmente contrariada, disse:
- Acha que pode dirigir a palavra assim contra mim verme? – aproximou-se novamente de mim – porém devo admitir que tenha certa razão no que diz... – ponderou mais um pouco – então por que não mudamos um pouquinho a regra do jogo? – Akira tinha uma face ainda dura, porém não tão gelada.
- E o que seria a mudança? – perguntei, esperançoso de que estava no caminho certo.
- Em vez de eliminá-los talvez os faça escravos, afinal estão em guerra conosco – Akira respondeu, destruindo a esperança que tinha começado a se formar – ou então...
- Ou então...? – perguntei, como se fosse o último galho em que pudesse me agarrar para me salvar.
- Pode mostrar que não é um covarde e lutar comigo, se me eliminar não só libertarei teu povo como deixarei minha raça sob seu comando – Akira riu maldosamente – o que acha disto?
- H... Hahaha! Essa piada foi boa Akira-sama! – respondi nervosamente, pois sabia que isto só podia ser uma armadilha – imagino como a tua raça irá destroçar meu povo tão logo minha espada traga a tua derrota! – também sabia que caso ela estivesse falando sério, teria um sério dilema a minha frente.
- Mas estou falando muito sério! – pegou o comunicador que ela tinha consigo – se desejas posso fazer um pronunciamento para todo meu povo para provar! – Akira olhou para Chi então e caminho em sua direção – você deve saber sobre sistemas eletrônicos para ter trazido o pequeno verme ali até aqui e deve ser de confiança dele, conecte este dispositivo ao sistema de transmissão de rádio de toda Verona.
- Mestre? – Chi olhou para mim, que apenas fiz sim com a cabeça como resposta, em completo estado de choque – está certo então – a androide conectou rapidamente o aparato de Akira com os seus próprios sistemas – pronto Akira-san.
- Ok – Akira pegou o aparato e teclou um numero rapidamente – Ceres? Tenho uma ordem urgente para você – disse tão logo a outra nekomimi respondeu.
- Sim Akira-sama, mas espere um momento... – passou-se alguns instantes sem nada dizer, continuando em seguida – algo muito errado está acontecendo, todos os rádios estão transmitindo nossa conversa!
- Está tudo bem Ceres, estou ciente de que isto iria acontecer, preciso que todos os companheiros nekomimis ouçam a ordem que darei a seguir – Akira respondeu, pigarreando e continuando em seguida – após pensar por um tempo até que o nosso inimigo chegou aqui, mata-lo sem dar-lhe a chance de lutar foi um pouco baixo de nossa parte, por isso irei desafiá-lo para um duelo e caso eu ganhe, escravizaremos o povo humano de Verona, caso a vitória pertença a ele, quero que todos os membros da raça nekomimi o obedeçam como o fazem para mim!
- Mas Akira-sama! Agora que temos esta vantagem, não podemos... – Ceres respondeu, soando realmente desesperada com a nova ordem.
- Por algum acaso estás questionando uma ordem de Akira ser insignificante? – Akira respondeu, fazendo um arrepio correr por minha espinha – não conseguirei ter prazer em acabar com os humanos se não souber que realmente os derrotamos completamente, e não que apenas tivemos sorte e teríamos perdido se os enfrentássemos diretamente!
- E... Está bem Akira-sama – Ceres respondeu, soando conformada, porém não contrariada – será feito conforme tua vontade!
- Está bem assim reizinho? – Akira disse, desligando o comunicador, pegando-o de volta com a Chi e caminhando novamente até minha direção, parando a cerca de dois metros de mim e armando-se em uma pose de gat-fu avançada – agora sabe que caso me derrote, pelo instinto todos o obedecerão, já que temos trinta testemunhas aqui, então o que me diz?
- Mas Akira-sama – tentei desesperadamente achar uma maneira de evitar este conflito – sabes muito bem que sou o representante máximo das artes de luta e guerra da raça humana, não terás chance contra mim! – apontei para meu próprio peito – devido ao meu código de honra, não posso atacar alguém que tenho plena ciência que não conseguirá se defender adequadamente.
- Então prefere que seu povo seja feito de escravo por causa de uma "honra" que não te fará bem algum? – Akira perguntou, entretanto sua feição mudou ligeiramente tão logo notou que eu olhava no fundo de seus olhos, dizendo – acabe logo... com esta dor... que me consome por sete meses... – neste instante seus olhos tremeram ligeiramente e seu rosto voltou a apresentar a mesma forma de quando entrou na sala – vamos! Ataque-me e mostre que é corajoso e não um covarde que somente o faz de maneira silenciosa e sorrateiramente!
Naquele momento minha mente com certeza deve ter quase fervido, pois sabia que podia facilmente vencer um duelo contra Akira, porém conhecendo os nekomimis também sabia que o resultado não poderia ser diferente do que ela propôs, duas pessoas entrariam neste combate e apenas uma sairia, caso não a eliminasse os humanos com certeza seriam feitos escravos e estaríamos completamente perdidos; caso a vencesse no duelo, sabia que graças ao instinto poderia confiar que todos me obedeceriam como se eu fosse a líder nekomimi... ou seja, estava entre a cruz e a espada...
Lentamente dirigi minhas mãos até a parte de trás de minha cintura e peguei o cabo das minhas duas espadas e as saquei, entretanto não estava nem um pouco inclinado a lutar com minha amada, em minha mente duas frentes de raciocínio brigavam pelo controle, uma dizendo que devia silenciar meu coração e pensar no bem de meu povo, visto que fora me dado este cargo já que todos confiavam em minha capacidade de fazer o melhor por eles; do outro lado meu coração gritava implorando que nada fizesse contra minha amada nekomimi, a batalha seguia ferozmente dentro de mim até o momento em que algo fez o equilíbrio ser completamente destruído.
Akira ainda tinha a aura negra fortemente colada junto a si, entretanto notei um diminuto globo de luz pairando bem ao lado da barriga de sete meses dela, aos poucos pude notar um pequeno bebê nekomimi translucido se formando desta luz, cheguei a pensar que estava ficando insano, todavia tinha certeza que podia ouvir uma voz: "Pa... Pa... Papai..." foi então que, para meu completo estado de choque, notei que a voz vinha do ser que estava ao lado daquela barriga "Papai... sei que você e mamãe brigaram feio... sei que foi por causa de gente má que não quer que o amor vença... mas não ataque e mate a mamãe... não tira minha chance de vir ao mundo dar muita felicidade a vocês... viver, ter um namorado... casar... dar netos para vocês... não tira minha chance... confia no amor que sente por ela... por favor papai... por... favor..." lentamente desaparecendo dentro de Akira novamente.
Se antes achava que tinha sentido uma dor emocional, aquilo tinha facilmente superado qualquer uma das experiências anteriores; meu coração doeu de tal sorte que inicialmente achei que estava tendo um ataque cardíaco, entretanto tão logo lágrimas começaram a correr de meus olhos, notei que na realidade estive perto de atacar não só a pessoa que mais amo em todo o universo como também prestes a matar minha própria filha! Devido a isto, larguei as minhas espadas, que caíram e fizeram um som metálico assim que tocaram o chão, ajoelhei-me e levei minhas mãos até minha face e, entre soluços, disse:
- N... Não posso... não consigo! – minhas lágrimas aumentaram, molhando o chão entre minhas pernas – peça qualquer coisa de mim... menos erguer minha espada contra ti Akira-chan!
- Como imaginava... – Akira suspirou, pelo som de suas patas notei que se aproximava de mim – somente é capaz de atacar pelas costas ou quando menos esperamos... – foi então que senti suas garras penetrando meu couro cabeludo e puxando-me de para que fosse forçado a olhá-la diretamente nos olhos – não só é um covarde como é traiçoeiro, tentando fazer-se de coitadinho como se estivesse sofrendo – cuspiu então em minha cara, o que doeu em mim mais do que a pata em minha cabeça – você me dá nojo! – jogou-me então ao chão.
- Mestre! – ouvi Chi falar, chegando a dar alguns passos em minha direção.
- Parada ai! – Akira gritou, ordenando em seguida – levem os três como prisioneiros, quero que eles assistam de perto o julgamento em praça publica que farei de Richard em dois dias, quando o tempo melhorar, algeme-os e levem-nos para Neo-Verona!
- Sim Akira-sama! – responderam as nekomimis que se encontravam no local, algemando-nos e em seguida nos levando até o helicóptero deles.
- Akira-chan, pense bem! – tentei uma última vez fazer Akira entender que não desejava isto, logo após o Andrade a Chi serem jogados dentro da aeronave enquanto ainda encontrava-me de pé – o que tu estás fazendo é loucura!
- Loucura...? – Akira olhou-me então com uma cara que zombava de mim e gritou – ISTO É NEO-VERONA!!! – chutando-me no meio do peito para dentro do helicóptero.
- Richard – o Andrade disse, tão logo cai lá dentro – a principio cheguei a pensar que, de fato, eras um covarde, entretanto pensei que caso ao invés de ser ti e Akira fosse eu e Dawn grávida de mim... muito provavelmente eu faria a mesma coisa, sendo rei ou não... por isso... não se culpe.
Apesar do que o Andrade tinha dito, uma dor avassaladora tomava conta de meu ser, pois sabia que graças a minha decisão, tinha condenado todo o meu povo a sofrer como escravos nas patas de uma nekomimi que fora manipulada a fazer o que estava fazendo; meu estado de espírito fez-me ficar ausente, como se eu mesmo estivesse preso dentro de minha cabeça, de tal sorte que sequer notei quando chegamos a Verona e, apesar do frio intenso, pude ver muitos nekomimis que tinham tomado às ruas e comemoravam a passagem do helicóptero que nos carregava e Akira também.
Ao aterrissarmos no heliporto do palácio real, havia uma multidão de nekomimis esperando que Akira saísse; tão logo isso aconteceu um corredor foi quase que instantânea e intuitivamente formado dando-nos passagem desde a aeronave até o prédio principal, lembro-me de ter recebido tomatadas e cusparadas enquanto caminhava cabisbaixo e deprimido, sem falar nos insultos e impropérios...
Chi e Andrade foram levados para um lugar que desconhecia no momento enquanto me colocaram em uma das mais desconfortáveis celas da prisão real do palácio, guardada pelos que serão executados pelo rei em pessoa, meu "julgamento" e execução seria em dois dias, por isto tudo o que fizeram foi acorrentar-me nu a parede de maneira que meus braços ficaram esticados para cima e eu ajoelhado no chão, após vinte e quatro horas naquela posição, eu fedia a fezes e urina, tanto pela minha própria como também por nekomimis que estavam responsáveis guarda, que certa vez entraram em minha cela e disseram:
- Vamos seu ser nojento, chupe! – retirou então seu membro, quase que por reflexo cheguei a começar a fazer como quando meu irmão forçava-me a tal ato – maldito sem orgulho próprio! Acha que eu deixaria um humano imundo como você tocar-me?!?! – deu-me então um soco e começou a urinar em mim.
Para complicar ainda mais minha sorte no dia em que estava marcado os eventos que culminariam com minha morte, o tempo piorara sendo que só seria possível a cerimonia no dia seguinte, mais um dia se passou e nem comida fora-me dada e água apenas uns goles aqui e acolá; estava com tanta fome e sede que na noite que precedia minha morte comecei a perder minhas forças e minha alma encheu-se de tantos remorsos que, naquele momento, resolvi tentar aquilo, pela primeira vez em minha vida orei, do fundo de meu coração:
- Sabe... – olhava para o chão enquanto falava, já com lágrimas rolando pelos meus olhos – antigamente nunca acreditei nestes templos... que diziam que para alcançar o criador... teríamos que seguir as ordens de um padre ou pastor... mas um dia uma usagimimi me disse que para falar contigo, bastava eu querer do fundo do coração... por isso resolvi dar uma chance para, quem sabe... apenas desabafar um pouco...
- Tenho plena ciência que... o que acontece comigo agora é uma consequência dos erros por atitudes impensadas no passado... se isto se limitasse a eu sofrer humilhações, tribulações ou até mesmo minhas punições culminarem com minha morte, não importar-me-ia com isto... mas meu povo sofrerá... e a pessoa que eu mais amo nesta terra já está sofrendo... isto sim dói demais... sei que... assim como tenho certeza que eu seria o melhor pai possível para a minha filha que Akira carrega seu ventre... peço apenas... – chacoalhei minha cabeça, chorando mais intensamente – que se és um pai tão bom como ouço de ti de teus seguidores, não precisas afastar de mim o cálice de fel, pois o beberei com dignidade pelos erros e pecados que cometi e carregarei minha cruz pelo calvário como tu o fizeste um dia, todavia afasta essa sina de meu povo, pois não tem culpa nenhuma da fraqueza do rei deles, mas mais importante – fechei meus olhos – livra Akira do mal que a cerca, ela não sabe o que está fazendo... não deixe a pessoa que eu mais amo nesta terra... sofrendo como ela está...
O silencio foi toda a resposta que obtive naquele momento; fiquei pensando com minhas lágrimas se poderia ao menos ver o sorriso no rosto de Akira por pelo menos mais uma vez, quando ouvi o cadeado de minha cela ser destrancado, imediatamente abri os olhos e olhei quem o fazia, pois achava que os guardas estavam lá para mais uma seção de humilhações, entretanto não só já era noite, como quem entrava era um nekomimi desconhecido para mim, tinha cabelos e pelos marrons claros, olhos azuis, era musculoso tendo em torno de um metro e oitenta, trajava uma calça jeans comum e surrada, camiseta branca sem estampas; trouxe uma bacia de água, uma roupa junto de uma toalha, um copo com algum líquido branco e um prato de comida, postou-se perante mim e se ajoelhou, colocando a alguns apetrechos de banho ao seu lado, sem conseguir mais conter minha curiosidade, perguntei:
- Quem és tu? Por que vieste aqui? – com certo receio da resposta que receberia.
- Quem eu sou é irrelevante – o nekomimi respondeu, foi neste instante que notei que ele deveria ter por volta de vinte e cinco anos – vamos apenas dizer que fui mandado aqui para deixar-te apresentável para o dia de amanhã, pois aparentemente a Akira estava preocupada contigo...
- Heh... – involuntariamente sorri, afinal aquilo era inesperado – que ironia que após tudo isto ela se preocuparia comigo... – comentei, no exato momento em que o nekomimi começou a lavar-me com água morna e uma esponja, para minha surpresa.
- Oh, a Akira com certeza se preocupa contigo Richard – o nekomimi respondeu, lavando-me com esmero – alias, acredito que todos os nekomimis que não tenham caído neste frenesi insano também o fazem...
- Estás insinuando que o controle de Akira não foi completo e total para todos os nekomimis? – perguntei estupefato, ao que apenas o nekomimi limitou-se a responder com um aceno de cabeça – mas então, não eram para esses "sinais" serem incontestáveis para fazê-los obedecê-la?
- Sim, porém um dos sinais foi inadvertidamente esquecido, de que a descendente mostraria os mesmos dons que Mewsus tinha em vida – ele respondeu, com certa tristeza na voz – por isso apenas dois sinais não foram suficientes para fazer a nossa raça segui-la completamente, pois estes fariam o instinto para ser leal a ela ativar, o terceiro e último fariam eles o fazerem por coração...
- Tens muito conhecimento sobre isto... – ponderei no exato momento em que ele acabou o banho – como sabes sobre tudo isto? – perguntei, em seguida ele me ofereceu o copo com o que parecia ser leite – mais importante, por que os dons de Mewsus não se manifestaram em Akira?
- Podemos dizer que eu... sei bastante sobre a história em geral, por que gosto de pesquisa-la – respondeu o nekomimi, enquanto eu começava a beber o leite – entretanto... o motivo que levou a pequena a ativar o instinto foi o ódio e não o amor... os dons aparecem apenas com o amor... não concorda?
- Sim! – respondi, após beber o melhor leite que já tinha tomado em minha vida – é que aparentemente a pequena recebeu informações de maneira manipulada e errônea e para ajudar um espirito ao qual, mesmo que acidentalmente, causei muito mal está a forçando a fazer tudo isto... – não sabia o que me levava a falar sobre espíritos a um completo estranho, entretanto sentia que podia fazê-lo.
- Entendo, nestes casos a situação complica-se ainda mais – comentou o nekomimi, dando-me uma colherada de uma coisa que lembrava mingau de aveia – pois, mesmo que um espirito viesse e tirasse o obsessor de perto da Akira, enquanto ele ainda tivesse ódio sempre voltaria no futuro e bastaria um motivo para ambos terem algo em comum, acabaria por obsidiar novamente a pequena...
- Entendo... – respondi após a primeira colherada do que seria a mais gostosa comida que tinha comido em minha vida – mas como fazer para impedir que ela volte?
- O espirito que obsidia nada mais é do que um cego que não enxerga nada além do ódio que sente, por isto temos que mostrar-lhe que está enganado – o nekomimi respondeu – mas como fazê-lo ver quando não o pode? Como fazer um cego de nascença saber o que é a cor vermelha? Demonstrando por meio de atos que não somos o que acredita sermos e termos fé, pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável para tal.
- Compreendo... – respondi, ao comer a última colherada da deliciosa refeição, no exato momento em que o nekomimi colocou sua pata em minha cabeça – como eu queria ter apenas uma pista do que deveria fazer para conseguir tal feito... não quero que meu povo e nem minha amada nekomimi sofram por causa de erros estúpidos que eu cometi em minha vida – eu disse, quando uma força e paz descomunal invadiu meu ser e fez-me relaxar e ficar com o raciocínio claro e desimpedido.
- Você vai se lembrar do que Mitsuki e Akira se esqueceram Richard – o nekomimi respondeu, sorrindo docemente para mim, pegando tudo que tinha trazido com exceção da roupa e preparando-se para sair.
- Por que estás sendo tão gentil com um estranho, mesmo que não esteja sob o controle dela, poderia ter feito apenas teu trabalho... – foi então que me ocorreu, "como ele sabe sobre a Mitsuki?!?" pensei – mais importante, como sabes sobre...
- Por que eu ouvi tua oração Montecchio Richard... e a humildade e sinceridade nela me comoveu muito, por isso decidi fazer isto já que foi dito "aquele que quiser ser servido que sirva primeiro" – olhou-me com doçura em seu olhar, fazendo-me arrepiar muito forte.
- M... M... Mas me diga por São Miau, o que devo fazer para vencer esta batalha contra o mal que quer descer sobre nosso povo! – implorei, rogando mentalmente para que ele fosse quem eu imaginava que fosse – quando esta luta acabará?
- Se realmente desejas ganhar a batalha Richard – o nekomimi respondeu, olhando-me duramente – lembre-se que quem vencer perderá e quem perder vencerá – virou-se de costas de concluiu – eu tenho visto tuas lutas Richard, em verdade te digo de que elas estão chegando ao fim...
Tão logo ele disse isto eu abri os olhos e notei que deveria ter adormecido de cansaço, pela cor do céu lá fora estava prestes a amanhecer, ficava-me perguntado se tudo aquilo tivera sido um sonho, todavia a roupa que fora trazida ainda jazia no mesmo local e a confiança que tinha de que tudo daria certo me fizeram acreditar que não, aquilo não fora um sonho.
Quando o sol saiu, os guardas nekomimis vieram me buscar e, após algemar-me, fizeram-me caminhar até a praça central de Verona; um local enorme e aberto, já repleto de nekomimis, em seu centro estava isolado um local onde ninguém se atrevia a entrar por ordem de Akira que também disse ser um momento dela e que nada deveria ser feito para interromper sua diversão, nele duas toras parecidas com aquelas dos troncos para escravos estavam encravados no chão do local, presos a eles duas correntes com algemas nas pontas, onde fui preso em meus braços; não levou muito tempo para que um corredor formasse por entre a multidão e Akira lentamente caminhasse até mim, encarou-me por alguns instantes e depois dirigiu a sua atenção para os nekomimis presentes, gritando:
- Hoje estamos aqui para julgar este sujo e manipulador que está perante mim – apontou com a pata para mim, fazendo o público vaiar-me – que por meio de artimanhas matou minha mãe, fez meu pai cometer suicídio e ainda por cima escravizou-me! – mostrou então a pata com a marca dos escravos da família Montecchio – tentou usar-me para conquistar nossa raça e depois iria despojar-se de mim como se eu fosse um lixo! O que devemos fazer com uma escória deste porte, meus companheiros?
- MATE-O! – a multidão gritou em uníssono.
- Bem Richard – Akira disse virando-se para mim – acho que já sabe o que vai acontecer contigo verme – notei um leve tremor em suas orelhas e por alguns instantes seu olhar pareceu-me menos duro – entretanto, para demonstrar como sou magnânima, vou te dar uma chance, se confessar ser culpado de tudo o que te acusei, apenas o farei meu escravo e expulsarei teu povo não os escravizando, o que me diz disso?
- Nego-me a admitir algo que é deveras errôneo – respondi, acreditando fielmente no que me fora dito aquela noite "pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável" – não o farei.
- Oh? Então prefere morrer e fazer seu povo ser feito de escravo para encobrir uma mentira seu ser nojento? – Akira cuspiu em minha cara, entretanto apesar das palavras odiosas e ofensas, não sentia dor nem desespero, apenas sentia que salvaria a pequena, de uma maneira ou outra – então deverei arrancar a confissão de você? – a nekomimi caminhou e pegou uma adaga com Ceres, que aparentemente estava adaptada para nekomimis segurarem com uma pata só.
- Mesmo que o faça, não o admitirei algo que nunca fiz – respondi seguramente.
- Então devo te apunhalar seguidas vezes... – senti certa tristeza em sua voz quando disse isso, seguido de um leve tremor em suas patas – para que... para que... admita que... me usou e traiu?
- Não o farei Akira... –sama – respondi, encarando-a duramente, certo de meus sentimentos – pois isto seria trair a minha honra, admitir ter feito algo que não fiz apenas para livrar-me da morte far-me-ia um covarde ainda maior do que afirmas que sou.
- POR QUE?!?! – Akira exasperou-se, gritando para mim – POR QUE PREFERES SER FERIDO E MORTO A ADMITIR QUE ME MACHOU PROFUNDAMENTE AO TENTAR ME USAR!!! QUER TANTO ASSIM QUE EU TE ESFAQUEIE COMO PAGAMENTO PELO QUE ME FEZ?!?! – a mim parecia que hesitava em seu intento de machucar-me.
- Akira... – duas frases vieram a minha cabeça neste instante "pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável" e "Você vai se lembrar do que Mitsuki e Akira se esqueceram" – não posso admitir por um motivo muito simples... – comecei a falar no exato momento em que minha cabeça se iluminou e passei a falar do fundo do meu coração – pois, caso o faça simplesmente para livrar-me da morte, serei indigno de ser um ser vivo descente, se fores tão honrada como dizes que é, dirá a esta criança que cresce em teu ventre que por mais que queria negar é tão minha quanto tua, de que o pai dela foi reto até o último momento, morrendo honradamente como todo macho deveria ser – olhei para ela então com todo o sentimento que tinha em meu coração pela pequena – se esfaquear-me curará tua dor, apunhale-me o quanto quiser, mas saiba disto, não chorarei nem ouvirás lamentos vindos de minha boca, pois quero que nossa criança se orgulhe do pai que a gerou!
- MALDITO! – a feição triste e hesitante de Akira mudou-se instantaneamente, parecendo um ser demente subitamente enfurecido com algo, levou a adaga para trás de sua cabeça e rápida e fortemente atacou-me; fechei meu olho e como eu esperava, dor nenhuma senti, apenas o sangue espirrando em minha face.
"Que... linda estás Akira-chan..." pensei em dizer, todavia as palavras falharam-me, sem saírem de meus lábios "que barriga grande para teu pequeno corpinho... que maravilha da natureza... e eu nem consegui... vê-la crescer... fazer os exames contigo... sorrir nos passeios mostrando nosso rebento crescendo, amparando-a quando se sentisse enjoada... meu São Miau... por que dei ouvidos a Lívia?!?! Por que errei tanto?!?!" a muito custo consegui segurar minhas lágrimas que tentavam sair a qualquer custo visto a emoção que sentia naquele momento, entretanto logo em seguida toda a magia de meu encantamento caiu por terra, no exato momento em que Akira demonstrou que não sentia o mesmo, dizendo:
- Não imaginei que viria tão rápido para cá verme – Akira pareceu ponderar por alguns instantes – bem, não que isto fará alguma diferença, meu plano de vingança começou tão logo fomos informados que você tinha partido da capital até aqui...
- Como soubeste que me dirigia para cá? – perguntei estupefato, sem saber como a informação pudera ter vazado – se apenas o Andrade, Chi e eu sabíamos para aonde nos iriamos!
- Com informantes, claro! – Akira respondeu, com bastante confiança em sua voz – ou como acha que saberíamos até a hora em que seu helicóptero saiu do heliporto?
- Impossível! – o Andrade exclamou, parecendo revoltado – como poderiam ter informantes na capital quando não avistamos um único nekomimi por mais de quatro meses?!?! – começou a andar em direção de Akira, já com a mão na empunhadura de sua espada.
- Só por que não nos viu – Akira respondeu, batendo as patas – não significa que não estivéssemos lá – olhou então em volta – não é mesmo meninas?
- O que quer... – Andrade dizia no exato momento em que garras afiadas apareceram bem ao lado de seu pescoço – mas o que é isto?
- São umas amigas minhas – Akira respondeu, em tom de deboche – aconselho a não se mexer mais sem minha permissão, não queremos que morra prematuramente, não é mesmo?
Foi então que notei cerca de nove humanas entrando no recinto mais uma nekomimi fêmea que mantinha o Andrade parado com suas garras, não consegui compreender por que tínhamos membros da minha própria raça ajudando-a! Foi então que perguntei:
- Como podem, vós membros de nossa raça trair-nos com os nekomimis? – olhava para elas duramente – o que pode ela ter oferecido te tão bom para vós a ponto de mudarem de lado?
- Elas, traindo sua raça Richard? – Akira respondeu, zombando – e desde quando minhas amigas são humanos nojentos? – fez um sinal com a pata para elas – já está ok, podem mostrar a ele.
- Mostrar o que...? – foi então que tudo ficou claro, pois cada fêmea passou a retirar uma espécie de peruca que ia de uma orelha humana falsa até outra, habilmente escondendo suas orelhas de gato sob elas – n... não é possível... – balbuciei ao ver que as nekomimis retiravam algo parecido com uma "pele" de suas gostas que escondiam seus rabos, que balançaram livremente em seguida – n... não acredito... mas... mas mesmo com esses aparatos... o gás EG... os afetaria mesmo assim...
- Minha prima suspeitou que o rei teria alguma maneira de nos neutralizar parcialmente tão logo eu declarasse guerra contra tua imunda raça – respondeu Akira, cuspindo no chão – por isto, tão logo eu apertei aquele botão que acionou o avião que me tirou deste lugar, todos os nekomimis favoráveis a nossa causa que viviam em Verona oeste se esconderam debaixo da terra, em abrigos subterrâneos, tão logo saíram apenas eliminaram os habitantes humanos e tomaram seus lugares.
- Isto não faz sentido – o Andrade comentou, continuando – como conseguiram inserir tantos extremistas lá em tão pouco tempo?
- E quem disse que tivemos pouco tempo? – Akira respondeu, continuando – a mãe de Lívia fora mandada para casar-se com um velho nobre nekomimi por não ter sido a escolhida para acasalar-se com o descendente de Mewsus, correto? Este nekomimi muito velho assumiu o titulo de nobreza tão logo o antecessor foi morto na guerra de mil novecentos e quarenta e cinco, só que ele era um extremista dos mais radicais; se lembram de que o oeste de Verona estava destruído e precisávamos de pessoas para ajudar a reconstruir o local? Pois bem, como sinal de confiança a raça nekomimi, foi dado a este, na época, jovem nobre a tarefa de incentivar nekomimis a se mudarem de Mewrusalém para a costa oeste... adivinhe o que ele acabou fazendo?
- Mandou apenas representantes leais e fieis dos extremistas para habitar o local... – respondi depressivamente, entendendo subitamente o que tinha ocorrido – mas... como passaram pelo teste de DNA, não havia como enganarem... – foi então que lembrei, o teste de DNA aconteceria na semana seguinte ao terremoto, somando-se este evento com a declaração de Chi, este detalhe fora deixado de lado – o terremoto...
- Exatamente, o ataque contra Artólia serviria para te fazer, já que sabia do nosso potencial destrutivo no ataque contra a tua base avançada, mandar o contingente em quase toda Verona para proteger a fronteira nordeste – Akira comentou, fazendo movimentos com suas patas – fazendo-nos, já que acabamos eliminando até os membros do exército real, sermos mandados diretamente para o coração da capital; o terremoto nos deu então a chance perfeita para agirmos, esperando o inverno chegar, porém precisávamos te tirar de Verona para que o plano fosse cem por cento eficaz, estas armas de tempos antigos foram apenas o meio que encontramos para atraí-lo até aqui, visto que nekomimis não se rebaixariam a fugir de um combate corporal! – neste momento um aparelho de celular tocou, ao que Akira rapidamente atendeu, dizendo – sim, Akira falando... sim... já? Que maravilha! Certo... sim... entendo, está bem me aguarde, dentro em breve estarei ai, apenas deixe-me informada – desligando o aparelho em seguida.
- Quem era? – perguntou uma nekomimi, aparentemente a mais próxima de Akira entre os presentes.
- Era a comandante Ceres, dizendo que setenta por cento de toda Verona já estava sob nosso controle! – olhou então para mim, com olhos tão frios que me fizeram arrepiar – então reizinho nojento, o que pretende fazer?
- R... Reizinho... – as palavras carregadas de ódio vindas de Akira machucavam-me mais do que se ela fisicamente me torturasse – c... como assim setenta por cento de Verona dominada? Desejas que eu acredite em um disparate deste Akira-chan? – foi o que consegui raciocinar após o que ela disse, tentando achar uma maneira mentalmente de reconhecer minha amada naquele ser nefando que se portava perante mim.
- Ora, se não acredita ligue para alguém de sua confiança e peça que ele confirme – Akira respondeu, de maneira jocosa, aproximando-se de mim – tenho certeza que aquele Soares, que agora está sob vigilância de Ceres, poderá confirma-lo, use seu telefone mesmo, depois que a Lívia instalou amplificadores de sinal aqui, a ligação poderá ser completada – disse então, levantando sua pata e fazendo as garras saírem, retalhando meu peito de uma maneira superficial, mas muito dolorosamente – nunca mais utilize esta boca imunda para me chamar... desta maneira... tão informal... entendido?
- Maldita! – gritei de dor, olhando para meu peito e notando um pouco de sangue escorrendo por ele – e... está bem... irei ligar... – rapidamente tirei meu comunicador e disquei o número do Soares, após alguns toques alguém atendeu, porém nada disse – Soares, aqui é Richard, como está a situação por ai?
- Ora, então estou falando com o tão famoso e odiado Richard? – uma voz feminina respondeu de maneira sensual e desdenhosa – se está ligando estando na base acho que a Akira-sama já deve ter te dado a noticia que agora Verona está nas nossas patas, não é? Quer que eu, Ceres, passe para seu amiguinho nobre enquanto ele ainda tem alguma vida sobrando nele?
- Droga! O que fizeram com ele?!?! – exclamei estupefato – deixe-me falar com ele agora mesmo!!!
- Creio que não esteja em condições de fazer exigências seu pequenino verme, porém como isto foi ordem de Akira, deixarei falar com ele – houve então um som de como se alguém passasse o aparelho para outra pessoa – R... Richard... os nekomimis... nos pegaram... de surpresa...
- O que quer dizer Soares?!?! Então a invasão efetivamente aconteceu?!?! – perguntei perplexo, não conseguindo acreditar no que acontecia – como deixamos isto acontecer?
- C... Como não estávamos por perto... eles atacaram de surpresa... eles estavam disfarçados de humanos... não tivemos tempo para mais nada... – ouvi então o aparelho sendo pego por alguém, que disse em seguida – bem, agora já confirmou ser verdade, nós comandamos Verona! – Ceres desligou em seguida.
- M... Meu São Miau... – eu disse, deixando o comunicador cair ao chão, olhei para o Andrade então – é... verdade, Verona está controlada pelos nekomimis... – retornei minha atenção para Akira, que me encarava de perto – o... o que irás fazer agora... já tens o que deseja...
- Bem... – Akira pareceu ponderar por alguns instantes, dizendo em seguida – a não ser que você nos derrote aqui e a todos os membros de nossa raça em seu território, acho que irei retirar todas as roupas dos humanos que são nossos prisioneiros e os jogarei do lado de fora, para que morram como estátuas congeladas, depois o farei andar e olhá-las antes de eu mesma te mandar para o inferno! Não consigo pensar em uma maneira melhor de vingar-me de você acabando com seu povo perante sua impotente figura!
- E... Eu não acredito – estava horrorizado, pelo olhar gelado de Akira somado com a extremamente potente aura negra em volta de si, tinha certeza que estava falando sério – n... não pode...
- Não só posso como irei – Akira respondeu, zombando de mim e virando-se passando a caminhar para a porta de saída, bem do outro lado onde nos encontrávamos – meninas, acabem com esses dois e levem aquele traste ali junto conosco para capital de Verona.
Foi então que notei que tudo tinha acabado, "preciso pensar em algo, senão o Andrade será morto e Chi destruída!" pensei "mas o que eu posso fazer numa situação como esta?!?! Está tudo acabado!"; passei então ver os habitantes de Verona sendo despidos e jogados ao relento, morrendo rapidamente por causa do frio destruidor que assolava nossa terra, meu coração encheu-se de tristeza pelas muitas vidas que seriam perdidas "eu daria qualquer coisa que me fosse possível para ao menos salvar a vida de todos estes inocentes..."; novamente a torrente de palavras veio a minha mente e, mesmo sabendo que não resolveria a situação, tinha a certeza que me daria mais tempo para pensar:
- Ora Akira-sama! Não te reconheço mais! – chacoalhei a cabeça lentamente – dizes que vingar-se-á de mim fazendo-me ver os corpos mortos de meus súditos perante minha impotente figura? – apontei para ela então – pois isto é muito estranho, visto dizer que o fará porque tentei manipular e enganar-te para conseguir fazer-me rei e finalmente conquistar todos os nekomimis – cruzei os braços então – eu seria um ser muito baixo caso tais afirmações fossem verdadeiras, entretanto sacrificar as vidas de todos os integrantes de uma raça por causa de uma vingança pessoal a fará milhões de vezes pior do que alegas que sou!
Akira parou de caminhar assim que comecei a falar, encontrava-se de costas para mim, todavia consegui notar que minhas palavras tinham surtido efeito no exato momento em que suas orelhas de gato tremeram levemente, permaneceu daquela maneira por alguns momentos, como se pensasse no que eu acabara de dizer, virou-se logo em seguida e, com uma cara visivelmente contrariada, disse:
- Acha que pode dirigir a palavra assim contra mim verme? – aproximou-se novamente de mim – porém devo admitir que tenha certa razão no que diz... – ponderou mais um pouco – então por que não mudamos um pouquinho a regra do jogo? – Akira tinha uma face ainda dura, porém não tão gelada.
- E o que seria a mudança? – perguntei, esperançoso de que estava no caminho certo.
- Em vez de eliminá-los talvez os faça escravos, afinal estão em guerra conosco – Akira respondeu, destruindo a esperança que tinha começado a se formar – ou então...
- Ou então...? – perguntei, como se fosse o último galho em que pudesse me agarrar para me salvar.
- Pode mostrar que não é um covarde e lutar comigo, se me eliminar não só libertarei teu povo como deixarei minha raça sob seu comando – Akira riu maldosamente – o que acha disto?
- H... Hahaha! Essa piada foi boa Akira-sama! – respondi nervosamente, pois sabia que isto só podia ser uma armadilha – imagino como a tua raça irá destroçar meu povo tão logo minha espada traga a tua derrota! – também sabia que caso ela estivesse falando sério, teria um sério dilema a minha frente.
- Mas estou falando muito sério! – pegou o comunicador que ela tinha consigo – se desejas posso fazer um pronunciamento para todo meu povo para provar! – Akira olhou para Chi então e caminho em sua direção – você deve saber sobre sistemas eletrônicos para ter trazido o pequeno verme ali até aqui e deve ser de confiança dele, conecte este dispositivo ao sistema de transmissão de rádio de toda Verona.
- Mestre? – Chi olhou para mim, que apenas fiz sim com a cabeça como resposta, em completo estado de choque – está certo então – a androide conectou rapidamente o aparato de Akira com os seus próprios sistemas – pronto Akira-san.
- Ok – Akira pegou o aparato e teclou um numero rapidamente – Ceres? Tenho uma ordem urgente para você – disse tão logo a outra nekomimi respondeu.
- Sim Akira-sama, mas espere um momento... – passou-se alguns instantes sem nada dizer, continuando em seguida – algo muito errado está acontecendo, todos os rádios estão transmitindo nossa conversa!
- Está tudo bem Ceres, estou ciente de que isto iria acontecer, preciso que todos os companheiros nekomimis ouçam a ordem que darei a seguir – Akira respondeu, pigarreando e continuando em seguida – após pensar por um tempo até que o nosso inimigo chegou aqui, mata-lo sem dar-lhe a chance de lutar foi um pouco baixo de nossa parte, por isso irei desafiá-lo para um duelo e caso eu ganhe, escravizaremos o povo humano de Verona, caso a vitória pertença a ele, quero que todos os membros da raça nekomimi o obedeçam como o fazem para mim!
- Mas Akira-sama! Agora que temos esta vantagem, não podemos... – Ceres respondeu, soando realmente desesperada com a nova ordem.
- Por algum acaso estás questionando uma ordem de Akira ser insignificante? – Akira respondeu, fazendo um arrepio correr por minha espinha – não conseguirei ter prazer em acabar com os humanos se não souber que realmente os derrotamos completamente, e não que apenas tivemos sorte e teríamos perdido se os enfrentássemos diretamente!
- E... Está bem Akira-sama – Ceres respondeu, soando conformada, porém não contrariada – será feito conforme tua vontade!
- Está bem assim reizinho? – Akira disse, desligando o comunicador, pegando-o de volta com a Chi e caminhando novamente até minha direção, parando a cerca de dois metros de mim e armando-se em uma pose de gat-fu avançada – agora sabe que caso me derrote, pelo instinto todos o obedecerão, já que temos trinta testemunhas aqui, então o que me diz?
- Mas Akira-sama – tentei desesperadamente achar uma maneira de evitar este conflito – sabes muito bem que sou o representante máximo das artes de luta e guerra da raça humana, não terás chance contra mim! – apontei para meu próprio peito – devido ao meu código de honra, não posso atacar alguém que tenho plena ciência que não conseguirá se defender adequadamente.
- Então prefere que seu povo seja feito de escravo por causa de uma "honra" que não te fará bem algum? – Akira perguntou, entretanto sua feição mudou ligeiramente tão logo notou que eu olhava no fundo de seus olhos, dizendo – acabe logo... com esta dor... que me consome por sete meses... – neste instante seus olhos tremeram ligeiramente e seu rosto voltou a apresentar a mesma forma de quando entrou na sala – vamos! Ataque-me e mostre que é corajoso e não um covarde que somente o faz de maneira silenciosa e sorrateiramente!
Naquele momento minha mente com certeza deve ter quase fervido, pois sabia que podia facilmente vencer um duelo contra Akira, porém conhecendo os nekomimis também sabia que o resultado não poderia ser diferente do que ela propôs, duas pessoas entrariam neste combate e apenas uma sairia, caso não a eliminasse os humanos com certeza seriam feitos escravos e estaríamos completamente perdidos; caso a vencesse no duelo, sabia que graças ao instinto poderia confiar que todos me obedeceriam como se eu fosse a líder nekomimi... ou seja, estava entre a cruz e a espada...
Lentamente dirigi minhas mãos até a parte de trás de minha cintura e peguei o cabo das minhas duas espadas e as saquei, entretanto não estava nem um pouco inclinado a lutar com minha amada, em minha mente duas frentes de raciocínio brigavam pelo controle, uma dizendo que devia silenciar meu coração e pensar no bem de meu povo, visto que fora me dado este cargo já que todos confiavam em minha capacidade de fazer o melhor por eles; do outro lado meu coração gritava implorando que nada fizesse contra minha amada nekomimi, a batalha seguia ferozmente dentro de mim até o momento em que algo fez o equilíbrio ser completamente destruído.
Akira ainda tinha a aura negra fortemente colada junto a si, entretanto notei um diminuto globo de luz pairando bem ao lado da barriga de sete meses dela, aos poucos pude notar um pequeno bebê nekomimi translucido se formando desta luz, cheguei a pensar que estava ficando insano, todavia tinha certeza que podia ouvir uma voz: "Pa... Pa... Papai..." foi então que, para meu completo estado de choque, notei que a voz vinha do ser que estava ao lado daquela barriga "Papai... sei que você e mamãe brigaram feio... sei que foi por causa de gente má que não quer que o amor vença... mas não ataque e mate a mamãe... não tira minha chance de vir ao mundo dar muita felicidade a vocês... viver, ter um namorado... casar... dar netos para vocês... não tira minha chance... confia no amor que sente por ela... por favor papai... por... favor..." lentamente desaparecendo dentro de Akira novamente.
Se antes achava que tinha sentido uma dor emocional, aquilo tinha facilmente superado qualquer uma das experiências anteriores; meu coração doeu de tal sorte que inicialmente achei que estava tendo um ataque cardíaco, entretanto tão logo lágrimas começaram a correr de meus olhos, notei que na realidade estive perto de atacar não só a pessoa que mais amo em todo o universo como também prestes a matar minha própria filha! Devido a isto, larguei as minhas espadas, que caíram e fizeram um som metálico assim que tocaram o chão, ajoelhei-me e levei minhas mãos até minha face e, entre soluços, disse:
- N... Não posso... não consigo! – minhas lágrimas aumentaram, molhando o chão entre minhas pernas – peça qualquer coisa de mim... menos erguer minha espada contra ti Akira-chan!
- Como imaginava... – Akira suspirou, pelo som de suas patas notei que se aproximava de mim – somente é capaz de atacar pelas costas ou quando menos esperamos... – foi então que senti suas garras penetrando meu couro cabeludo e puxando-me de para que fosse forçado a olhá-la diretamente nos olhos – não só é um covarde como é traiçoeiro, tentando fazer-se de coitadinho como se estivesse sofrendo – cuspiu então em minha cara, o que doeu em mim mais do que a pata em minha cabeça – você me dá nojo! – jogou-me então ao chão.
- Mestre! – ouvi Chi falar, chegando a dar alguns passos em minha direção.
- Parada ai! – Akira gritou, ordenando em seguida – levem os três como prisioneiros, quero que eles assistam de perto o julgamento em praça publica que farei de Richard em dois dias, quando o tempo melhorar, algeme-os e levem-nos para Neo-Verona!
- Sim Akira-sama! – responderam as nekomimis que se encontravam no local, algemando-nos e em seguida nos levando até o helicóptero deles.
- Akira-chan, pense bem! – tentei uma última vez fazer Akira entender que não desejava isto, logo após o Andrade a Chi serem jogados dentro da aeronave enquanto ainda encontrava-me de pé – o que tu estás fazendo é loucura!
- Loucura...? – Akira olhou-me então com uma cara que zombava de mim e gritou – ISTO É NEO-VERONA!!! – chutando-me no meio do peito para dentro do helicóptero.
- Richard – o Andrade disse, tão logo cai lá dentro – a principio cheguei a pensar que, de fato, eras um covarde, entretanto pensei que caso ao invés de ser ti e Akira fosse eu e Dawn grávida de mim... muito provavelmente eu faria a mesma coisa, sendo rei ou não... por isso... não se culpe.
Apesar do que o Andrade tinha dito, uma dor avassaladora tomava conta de meu ser, pois sabia que graças a minha decisão, tinha condenado todo o meu povo a sofrer como escravos nas patas de uma nekomimi que fora manipulada a fazer o que estava fazendo; meu estado de espírito fez-me ficar ausente, como se eu mesmo estivesse preso dentro de minha cabeça, de tal sorte que sequer notei quando chegamos a Verona e, apesar do frio intenso, pude ver muitos nekomimis que tinham tomado às ruas e comemoravam a passagem do helicóptero que nos carregava e Akira também.
Ao aterrissarmos no heliporto do palácio real, havia uma multidão de nekomimis esperando que Akira saísse; tão logo isso aconteceu um corredor foi quase que instantânea e intuitivamente formado dando-nos passagem desde a aeronave até o prédio principal, lembro-me de ter recebido tomatadas e cusparadas enquanto caminhava cabisbaixo e deprimido, sem falar nos insultos e impropérios...
Chi e Andrade foram levados para um lugar que desconhecia no momento enquanto me colocaram em uma das mais desconfortáveis celas da prisão real do palácio, guardada pelos que serão executados pelo rei em pessoa, meu "julgamento" e execução seria em dois dias, por isto tudo o que fizeram foi acorrentar-me nu a parede de maneira que meus braços ficaram esticados para cima e eu ajoelhado no chão, após vinte e quatro horas naquela posição, eu fedia a fezes e urina, tanto pela minha própria como também por nekomimis que estavam responsáveis guarda, que certa vez entraram em minha cela e disseram:
- Vamos seu ser nojento, chupe! – retirou então seu membro, quase que por reflexo cheguei a começar a fazer como quando meu irmão forçava-me a tal ato – maldito sem orgulho próprio! Acha que eu deixaria um humano imundo como você tocar-me?!?! – deu-me então um soco e começou a urinar em mim.
Para complicar ainda mais minha sorte no dia em que estava marcado os eventos que culminariam com minha morte, o tempo piorara sendo que só seria possível a cerimonia no dia seguinte, mais um dia se passou e nem comida fora-me dada e água apenas uns goles aqui e acolá; estava com tanta fome e sede que na noite que precedia minha morte comecei a perder minhas forças e minha alma encheu-se de tantos remorsos que, naquele momento, resolvi tentar aquilo, pela primeira vez em minha vida orei, do fundo de meu coração:
- Sabe... – olhava para o chão enquanto falava, já com lágrimas rolando pelos meus olhos – antigamente nunca acreditei nestes templos... que diziam que para alcançar o criador... teríamos que seguir as ordens de um padre ou pastor... mas um dia uma usagimimi me disse que para falar contigo, bastava eu querer do fundo do coração... por isso resolvi dar uma chance para, quem sabe... apenas desabafar um pouco...
- Tenho plena ciência que... o que acontece comigo agora é uma consequência dos erros por atitudes impensadas no passado... se isto se limitasse a eu sofrer humilhações, tribulações ou até mesmo minhas punições culminarem com minha morte, não importar-me-ia com isto... mas meu povo sofrerá... e a pessoa que eu mais amo nesta terra já está sofrendo... isto sim dói demais... sei que... assim como tenho certeza que eu seria o melhor pai possível para a minha filha que Akira carrega seu ventre... peço apenas... – chacoalhei minha cabeça, chorando mais intensamente – que se és um pai tão bom como ouço de ti de teus seguidores, não precisas afastar de mim o cálice de fel, pois o beberei com dignidade pelos erros e pecados que cometi e carregarei minha cruz pelo calvário como tu o fizeste um dia, todavia afasta essa sina de meu povo, pois não tem culpa nenhuma da fraqueza do rei deles, mas mais importante – fechei meus olhos – livra Akira do mal que a cerca, ela não sabe o que está fazendo... não deixe a pessoa que eu mais amo nesta terra... sofrendo como ela está...
O silencio foi toda a resposta que obtive naquele momento; fiquei pensando com minhas lágrimas se poderia ao menos ver o sorriso no rosto de Akira por pelo menos mais uma vez, quando ouvi o cadeado de minha cela ser destrancado, imediatamente abri os olhos e olhei quem o fazia, pois achava que os guardas estavam lá para mais uma seção de humilhações, entretanto não só já era noite, como quem entrava era um nekomimi desconhecido para mim, tinha cabelos e pelos marrons claros, olhos azuis, era musculoso tendo em torno de um metro e oitenta, trajava uma calça jeans comum e surrada, camiseta branca sem estampas; trouxe uma bacia de água, uma roupa junto de uma toalha, um copo com algum líquido branco e um prato de comida, postou-se perante mim e se ajoelhou, colocando a alguns apetrechos de banho ao seu lado, sem conseguir mais conter minha curiosidade, perguntei:
- Quem és tu? Por que vieste aqui? – com certo receio da resposta que receberia.
- Quem eu sou é irrelevante – o nekomimi respondeu, foi neste instante que notei que ele deveria ter por volta de vinte e cinco anos – vamos apenas dizer que fui mandado aqui para deixar-te apresentável para o dia de amanhã, pois aparentemente a Akira estava preocupada contigo...
- Heh... – involuntariamente sorri, afinal aquilo era inesperado – que ironia que após tudo isto ela se preocuparia comigo... – comentei, no exato momento em que o nekomimi começou a lavar-me com água morna e uma esponja, para minha surpresa.
- Oh, a Akira com certeza se preocupa contigo Richard – o nekomimi respondeu, lavando-me com esmero – alias, acredito que todos os nekomimis que não tenham caído neste frenesi insano também o fazem...
- Estás insinuando que o controle de Akira não foi completo e total para todos os nekomimis? – perguntei estupefato, ao que apenas o nekomimi limitou-se a responder com um aceno de cabeça – mas então, não eram para esses "sinais" serem incontestáveis para fazê-los obedecê-la?
- Sim, porém um dos sinais foi inadvertidamente esquecido, de que a descendente mostraria os mesmos dons que Mewsus tinha em vida – ele respondeu, com certa tristeza na voz – por isso apenas dois sinais não foram suficientes para fazer a nossa raça segui-la completamente, pois estes fariam o instinto para ser leal a ela ativar, o terceiro e último fariam eles o fazerem por coração...
- Tens muito conhecimento sobre isto... – ponderei no exato momento em que ele acabou o banho – como sabes sobre tudo isto? – perguntei, em seguida ele me ofereceu o copo com o que parecia ser leite – mais importante, por que os dons de Mewsus não se manifestaram em Akira?
- Podemos dizer que eu... sei bastante sobre a história em geral, por que gosto de pesquisa-la – respondeu o nekomimi, enquanto eu começava a beber o leite – entretanto... o motivo que levou a pequena a ativar o instinto foi o ódio e não o amor... os dons aparecem apenas com o amor... não concorda?
- Sim! – respondi, após beber o melhor leite que já tinha tomado em minha vida – é que aparentemente a pequena recebeu informações de maneira manipulada e errônea e para ajudar um espirito ao qual, mesmo que acidentalmente, causei muito mal está a forçando a fazer tudo isto... – não sabia o que me levava a falar sobre espíritos a um completo estranho, entretanto sentia que podia fazê-lo.
- Entendo, nestes casos a situação complica-se ainda mais – comentou o nekomimi, dando-me uma colherada de uma coisa que lembrava mingau de aveia – pois, mesmo que um espirito viesse e tirasse o obsessor de perto da Akira, enquanto ele ainda tivesse ódio sempre voltaria no futuro e bastaria um motivo para ambos terem algo em comum, acabaria por obsidiar novamente a pequena...
- Entendo... – respondi após a primeira colherada do que seria a mais gostosa comida que tinha comido em minha vida – mas como fazer para impedir que ela volte?
- O espirito que obsidia nada mais é do que um cego que não enxerga nada além do ódio que sente, por isto temos que mostrar-lhe que está enganado – o nekomimi respondeu – mas como fazê-lo ver quando não o pode? Como fazer um cego de nascença saber o que é a cor vermelha? Demonstrando por meio de atos que não somos o que acredita sermos e termos fé, pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável para tal.
- Compreendo... – respondi, ao comer a última colherada da deliciosa refeição, no exato momento em que o nekomimi colocou sua pata em minha cabeça – como eu queria ter apenas uma pista do que deveria fazer para conseguir tal feito... não quero que meu povo e nem minha amada nekomimi sofram por causa de erros estúpidos que eu cometi em minha vida – eu disse, quando uma força e paz descomunal invadiu meu ser e fez-me relaxar e ficar com o raciocínio claro e desimpedido.
- Você vai se lembrar do que Mitsuki e Akira se esqueceram Richard – o nekomimi respondeu, sorrindo docemente para mim, pegando tudo que tinha trazido com exceção da roupa e preparando-se para sair.
- Por que estás sendo tão gentil com um estranho, mesmo que não esteja sob o controle dela, poderia ter feito apenas teu trabalho... – foi então que me ocorreu, "como ele sabe sobre a Mitsuki?!?" pensei – mais importante, como sabes sobre...
- Por que eu ouvi tua oração Montecchio Richard... e a humildade e sinceridade nela me comoveu muito, por isso decidi fazer isto já que foi dito "aquele que quiser ser servido que sirva primeiro" – olhou-me com doçura em seu olhar, fazendo-me arrepiar muito forte.
- M... M... Mas me diga por São Miau, o que devo fazer para vencer esta batalha contra o mal que quer descer sobre nosso povo! – implorei, rogando mentalmente para que ele fosse quem eu imaginava que fosse – quando esta luta acabará?
- Se realmente desejas ganhar a batalha Richard – o nekomimi respondeu, olhando-me duramente – lembre-se que quem vencer perderá e quem perder vencerá – virou-se de costas de concluiu – eu tenho visto tuas lutas Richard, em verdade te digo de que elas estão chegando ao fim...
Tão logo ele disse isto eu abri os olhos e notei que deveria ter adormecido de cansaço, pela cor do céu lá fora estava prestes a amanhecer, ficava-me perguntado se tudo aquilo tivera sido um sonho, todavia a roupa que fora trazida ainda jazia no mesmo local e a confiança que tinha de que tudo daria certo me fizeram acreditar que não, aquilo não fora um sonho.
Quando o sol saiu, os guardas nekomimis vieram me buscar e, após algemar-me, fizeram-me caminhar até a praça central de Verona; um local enorme e aberto, já repleto de nekomimis, em seu centro estava isolado um local onde ninguém se atrevia a entrar por ordem de Akira que também disse ser um momento dela e que nada deveria ser feito para interromper sua diversão, nele duas toras parecidas com aquelas dos troncos para escravos estavam encravados no chão do local, presos a eles duas correntes com algemas nas pontas, onde fui preso em meus braços; não levou muito tempo para que um corredor formasse por entre a multidão e Akira lentamente caminhasse até mim, encarou-me por alguns instantes e depois dirigiu a sua atenção para os nekomimis presentes, gritando:
- Hoje estamos aqui para julgar este sujo e manipulador que está perante mim – apontou com a pata para mim, fazendo o público vaiar-me – que por meio de artimanhas matou minha mãe, fez meu pai cometer suicídio e ainda por cima escravizou-me! – mostrou então a pata com a marca dos escravos da família Montecchio – tentou usar-me para conquistar nossa raça e depois iria despojar-se de mim como se eu fosse um lixo! O que devemos fazer com uma escória deste porte, meus companheiros?
- MATE-O! – a multidão gritou em uníssono.
- Bem Richard – Akira disse virando-se para mim – acho que já sabe o que vai acontecer contigo verme – notei um leve tremor em suas orelhas e por alguns instantes seu olhar pareceu-me menos duro – entretanto, para demonstrar como sou magnânima, vou te dar uma chance, se confessar ser culpado de tudo o que te acusei, apenas o farei meu escravo e expulsarei teu povo não os escravizando, o que me diz disso?
- Nego-me a admitir algo que é deveras errôneo – respondi, acreditando fielmente no que me fora dito aquela noite "pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável" – não o farei.
- Oh? Então prefere morrer e fazer seu povo ser feito de escravo para encobrir uma mentira seu ser nojento? – Akira cuspiu em minha cara, entretanto apesar das palavras odiosas e ofensas, não sentia dor nem desespero, apenas sentia que salvaria a pequena, de uma maneira ou outra – então deverei arrancar a confissão de você? – a nekomimi caminhou e pegou uma adaga com Ceres, que aparentemente estava adaptada para nekomimis segurarem com uma pata só.
- Mesmo que o faça, não o admitirei algo que nunca fiz – respondi seguramente.
- Então devo te apunhalar seguidas vezes... – senti certa tristeza em sua voz quando disse isso, seguido de um leve tremor em suas patas – para que... para que... admita que... me usou e traiu?
- Não o farei Akira... –sama – respondi, encarando-a duramente, certo de meus sentimentos – pois isto seria trair a minha honra, admitir ter feito algo que não fiz apenas para livrar-me da morte far-me-ia um covarde ainda maior do que afirmas que sou.
- POR QUE?!?! – Akira exasperou-se, gritando para mim – POR QUE PREFERES SER FERIDO E MORTO A ADMITIR QUE ME MACHOU PROFUNDAMENTE AO TENTAR ME USAR!!! QUER TANTO ASSIM QUE EU TE ESFAQUEIE COMO PAGAMENTO PELO QUE ME FEZ?!?! – a mim parecia que hesitava em seu intento de machucar-me.
- Akira... – duas frases vieram a minha cabeça neste instante "pois um dia a verdade se fará presente e irrefutável" e "Você vai se lembrar do que Mitsuki e Akira se esqueceram" – não posso admitir por um motivo muito simples... – comecei a falar no exato momento em que minha cabeça se iluminou e passei a falar do fundo do meu coração – pois, caso o faça simplesmente para livrar-me da morte, serei indigno de ser um ser vivo descente, se fores tão honrada como dizes que é, dirá a esta criança que cresce em teu ventre que por mais que queria negar é tão minha quanto tua, de que o pai dela foi reto até o último momento, morrendo honradamente como todo macho deveria ser – olhei para ela então com todo o sentimento que tinha em meu coração pela pequena – se esfaquear-me curará tua dor, apunhale-me o quanto quiser, mas saiba disto, não chorarei nem ouvirás lamentos vindos de minha boca, pois quero que nossa criança se orgulhe do pai que a gerou!
- MALDITO! – a feição triste e hesitante de Akira mudou-se instantaneamente, parecendo um ser demente subitamente enfurecido com algo, levou a adaga para trás de sua cabeça e rápida e fortemente atacou-me; fechei meu olho e como eu esperava, dor nenhuma senti, apenas o sangue espirrando em minha face.
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Como Richard reagiu a presença subita de sua amada? Descubra neste penúltimo episódio da primeira fase!
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